Thursday 19 April 2012

espéce trigésima nona

Enquanto projecto eternamente procrastinado de filólogo, confesso que me provoca mesmo muita espéce quando, no século XXI, leio um qualquer autor contemporâneo que, num conto, num ensaio, num poema, num romance, se põe a usar palavras ridículas e desadequadas ao falar de um caralho. Porque ainda diz "vagina" e "seios" e "ancas", para as mulheres, mas não sabe dizer logo "caralho" ou "pila" ou, pelo menos, "pénis", para os homens... e, então, dou por mim a ler "órgão copulador masculino", em vez disso. Faz-me ainda mais impressão quando se trata de um autor de que estou a gostar, num livro de que estou a gostar, e de repente tenho de me deparar com o "órgão copulador masculino" e suas variadas variações.

Não percebo o pudor de linguagem de certas pessoas que escrevem, nos dias de hoje... sobretudo porque "órgão copulador masculino" pode não ser tão chocante como "caralho", em termos pragmáticos e semânticos, mas é-o bastante mais, em termos fonéticos, ortográficos e até estéticos.

N.B.: quando digo que "caralho" é mais estético que "órgão copulador masculino", refiro-me a "caralho" enquanto significante, não enquanto significado. Enquanto significado, fica à consideração de cada um, tendo em conta que é exactamente o mesmo - neste caso específico - que "órgão copulador masculino".

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