Wednesday 2 May 2012

espéce quadragésima

Havia uma coisa que me estava a fazer muita espéce, mas entretanto cheguei aqui e esqueci-me. E isso provoca-me mesmo muita espéce. Outra coisa que me incomoda assaz, embora o meu intuito inicial não se resumisse a falar disso, é o facto de os computadores da sala de informática da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, sita junto à livraria in campus situ, Colibri, ou a internet, vá-se lá saber, não permitirem o acesso constante e sem falhas à rede social facebook. Sim, compreendo que devam julgar que o acesso a esse demónio da contra-produtividade deva ser restringido, mas há, realmente, pessoas que, como eu, não o usam propriamente como ferramenta de lazer e de recreio. Dá-me jeito usar o facebook para combinar coisas com colegas, para motivos profissionais (publicar e publicitar textos, meus ou de outrém, ensaios, poemas, contos, micro-ficções, etc.), receber notificações de eventos literários e outras coisas desses géneros. Se, no meio de tudo isto, converso com alguém, no chat, acreditem que é por mero acaso, e não sucede por aí além.

Claro que não sei se esta limitação de facebook é imposta pelos senhores do gabinete de informática, ou por infeliz excesso de acessos por PC na mesma sala a essa rede, e isso dificulte, de alguma forma, o funcionamento da mesma. Agora, que me faz espéce estar a acabar de publicar um artigo, uma nota ou um link para um poema/texto num blog, e de repente aquilo falhar e ter de repetir o processo ad eternum, na vaga esperança de, passadas muitas tentativas, dar para publicar, eh, pá... faz, faz muita espéce, sim.

Thursday 19 April 2012

espéce trigésima nona

Enquanto projecto eternamente procrastinado de filólogo, confesso que me provoca mesmo muita espéce quando, no século XXI, leio um qualquer autor contemporâneo que, num conto, num ensaio, num poema, num romance, se põe a usar palavras ridículas e desadequadas ao falar de um caralho. Porque ainda diz "vagina" e "seios" e "ancas", para as mulheres, mas não sabe dizer logo "caralho" ou "pila" ou, pelo menos, "pénis", para os homens... e, então, dou por mim a ler "órgão copulador masculino", em vez disso. Faz-me ainda mais impressão quando se trata de um autor de que estou a gostar, num livro de que estou a gostar, e de repente tenho de me deparar com o "órgão copulador masculino" e suas variadas variações.

Não percebo o pudor de linguagem de certas pessoas que escrevem, nos dias de hoje... sobretudo porque "órgão copulador masculino" pode não ser tão chocante como "caralho", em termos pragmáticos e semânticos, mas é-o bastante mais, em termos fonéticos, ortográficos e até estéticos.

N.B.: quando digo que "caralho" é mais estético que "órgão copulador masculino", refiro-me a "caralho" enquanto significante, não enquanto significado. Enquanto significado, fica à consideração de cada um, tendo em conta que é exactamente o mesmo - neste caso específico - que "órgão copulador masculino".

Friday 24 February 2012

espéce trigésima oitava

Muito mea culpa, esta espéce, mas tinha de ser. É a cena Harry Potter. Claro que, enquanto filólogo em formação (um filólogo está, como um ser humano, menos os com complexos ou manias, sempre em formação), entendo que a cultura é assim mesmo, e evolui. Mas, lá por causa disso, não deixo, eu próprio de ter os meus - muitos - complexos e manias, e há coisas que, ainda que aceites, não deixam de me causar uma urticária (imaginemos que tenho um desses) uterina.
O Harry Potter já ascendeu ao status de Bom. Já é um A-lister da cena geek e nerdy, da qual sempre fiz parte. Não me cabe a mim controlar isso, a(s) cultura(s) é(são) o que é(são), etc, mas, por amor da Santa... manquem-se: é mau. É muito mau. É uma espécie de Tolkien para bebés. Não passa disso. Os jovens hipsters de hoje, na sua absoluta crença de que estão a ser verdadeiros nerds, justificam o Harry Potter com o argumento "mas é uma coisa da minha infância!" Ok. Eu também não era nenhum mancebo graúdo quando li Harry Potter. Mas já naquela altura aquilo me pareceu mau.
Cresci noutra geração de geeks e nerds. Tudo bem. Mas porque é que as gerações anteriores à minha gostavam das mesmas coisas e até no que era mais kitsch era unânime a nossa predilecção e os nossos gostos? Quase já não dá para falar de Star Wars, pelo menos da primeira/última trilogia (episódios IV, V e VI), Star Trek, então, é impossível, embora eles gostem muito de fingir que conhecem o Spock e saibam fazer o cumprimento vulcano, Battlestar Galactica é totalmente desconhecido, para essa gente, alguns, raros, ainda se vão lembrando do filme do Stargate e da incrível série spin-off que foi Stargate SG-1, e nem vale a pena adiantar mais. Vou ficando bastante feliz que até na nova geração do que passa por geeks e nerds a saga do Twilight ainda (e reforço: ainda) é considerada má, mas não deixa de ser ridículo ver imagens virais e memes vários, por essa internet fora, onde Gandalf, na sua encarnação cinematográfica por Sir Ian McKellen, dá instruções ao Frodo (Senhor dos Anéis), ao Luke Skywalker (Star Wars), ao Harry Potter e ao Edward (Twilight), sobre as suas missões importantíssimas, com vista a salvar o(s) mundo(s)/universo(s). Frodo Baggins e Luke Skywalker recebem, bem, indicações de que as suas missões são grandiosas, logo, para continuarem, que o mundo precisa deles, e tal. Edward recebe apenas a ordem para deixar de cintilar, que também me parece acertada. Mas Harry, esse cancro da cultura e da "literatura" (inserir riso sentido), é posto ao mesmo nível de Baggins e Skywalker, com a hercúlea missão de destruir os/as hoarcruxes. A sério? Destruir vestígios de alma, ou lá o que sejam hoarcruxes, de um homem sem cara, sequer, só um oval com olhos, um buraco com dentes e duas narinas, que nem sequer conseguiu matar um bebé (fosse lá por protecção de um tio-padrinho-pai, ou fosse o que fosse... aquele homem não é suposto ser o feiticeiro mais poderoso do mundo?), e tem de andar os livros todos a ameaçar, para depois aparecer quase no fim e andar tudo ali numa demanda pelos pedaços de alma dele? Uau.
A espéce disto é simples, a argumentação é que foi demasiada: o Harry Potter é mau. É mau. Não é coisa de "verdadeiro" geek, nerd, seja-o-que-for. É só mau. É Lord of the Rings for Dummies, na melhor das hipóteses. Ponto final. Muito parágrafo.

Sunday 8 January 2012

Espéce trigésima sétima

Inunda-me de espéce, um torvelinho irritante cá dentro, sempre que ouço alguém, sobretudo nos meios supostamente eruditos e académicos a proferir "Fi-lip Lár-quing", quando se querem referir a Philip Larkin ("Fi-lip Lár-quin[e]"). Mais imbecil é, ainda, quando tantas dessas pessoas o citam e o referem como um dos seus poetas preferidos "de sempre".
Ainda que fosse por acharem que o homem é o rei (Lar-"king") dos poetas, não deixa de ser estúpido não saberem pronunciar o seu nome.